Carta ao despresidente


A você que ocupa a cadeira de presidente
Meu nome é Francisco Nobertino Pereira Valente
Aqui de Estrela Cadente
Sertão de Valêncio Prudente
Me disseram seu nome
Mas nem me lembro mais
Me deram um santinho pra votar
Eu mal consigo enxergar
De ouvido só lembro do aro
Alguma coisa que combina com Nabo
Buraco Rato Mimado
Cadela no cio que abana o rabo
Flortcheca
A cadela de Maristela
Minha neta

Então seu presidente
Quero contar daqui de onde sou residente
Povo valente, as vezes sem dente
Mente, sente, se desentende
Mas sempre contente
Mesmo sem ouro nos dentes

Essa coisa de bandido bom é bandido morto
Pra nós não serve não
Agradecido seu presidente
Nem vem com gritaria, twitaria, baixaria
Pode gritar seus verbos
Pode rosnar seus impropérios
Piada sem graça
Piada de quem quem já tá sem cérebro
Palminha da gente
O sinhô não vai ter não
Kkk só se for de lamento
E pressa
Em desmamar o jumento

Seu presidente
Aqui também tem igreja
Crente, espírita, católica e afro brasileira
Todo mundo toca tambor
Essa gente é muito festeira
Aqui tem gente de tradição originária
Gente que tava aqui antes que os europeus chegassem
Vocês chamam de índios
Nós chamamos de guardiães da eternidade
Aqui todo mundo confraterniza
Ninguém quer ficar sem terra pra morar
Terra pra plantar
Água pra beber, pra regar, pra banhar
Eles guardam e a gente usufrui
Sem abuso, sem jagunço
Tudo flui

Seu presidente
Aqui tem família de todo jeito
Eu mesmo, não tenho pai daqui não
O velho veio do estrangeiro
Casou com minha mãe que era de terreiro
Os dois se casaram e tiveram vinte e quatro bezerro
Era de bezerro que chamavam os filho
Dia e noite tudo atacado no berreiro
Que nem de bezerro
Das vizinha daqui de perto
Ninguém nasceu por aqui
Umas vieram de Felisberto
Outras até do deserto
Tem gente que veio da África
Da Amazônia
Dos polos de gelo
E até da Macedônia
Tem gente sem pé, sem mão, sem cabelo
Tem gente baixinha, que nem comida tinha
Mirrada, fedida, desdentada, safada
Mulher da vida, homem viada
Já lhe disse
Aqui tudo flui

Falando nisso
Aqui só tem gente de família
Gente de bem mesmo
Homem com homem
Mulher com mulher
Homem e mulher
Família de todo jeito
Pra nós isso nunca foi problema não
Pra nós isso não tem crise nem conflito
A vida só flui

O que a gente queria mesmo seu presidente
É que não deixasse faltar é água
Se puder não mexer nos mananciais
Se puder não barrar os rios
Deixar solto, como sempre foi
Pra nós é melhor
Se puder fiscalizar garimpos
Ir atrás das milícias
Se puder ficar de olho nas grandes empresas
Aqueles que só querem explorar
Gente de má fé que só quer destruir
Gente de bem que pra enriquecer
Só mata e nada faz florescer
Se puder proteger os bicho
As fauna e flora e os índios
Se puder aumentar as reservas protegidas
Os parques e florestas
Os rios de novo a gente digo
Se puder ficar de olho
Pra que ninguém fique sem abrigo
Sem comida
Sem carinho
Se puder falar baixinho
Não esquecer de ser afetuoso
Se puder diminuir imposto
Se puder investir em educação pro povo
Se puder aumentar o orçamento
Da educação, da saúde e da cultura
Se puder diminuir o poder da polícia
Investir em política social
Investir mesmo em emprego
Se puder twitar menos
Pode até falar menos mesmo
Se puder, de repente
Dar uma sumida mesmo
Quem sabe até desaparecer permanentemente
A gente vai estar agradecendo
Seu presidente
De resto
A gente tá bem
Nem precisava de ter sido eleito
Um pouquinho acima de você
Qualquer outro
A gente já tava satisfeito
Dá uma fluída também

Até nunca mais ver
Seu presidente de desgoverno.


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