Dentro do Starbucks está tudo bem



*(Texto escrito em Abril de 2019)

A gente quer paz. Sossego. Mas tá impossível pra quem vive numa grande ou média cidade. Pelo barulho de toda hora, pela pressa, pelos apelos mercadológicos de tudo que fazemos hoje. Parece que nos comprimimos em linhas de montagem, num ritmo de alta produção e não conseguimos mais sair. E nem nos perguntamos por que. Mas descobri que não é só nas médias e grandes cidades. Antes fosse. Também as pequenas, os subúrbios, os interiores dos interiores também estão tomados de problemas globais. Hoje é impossível estar em qualquer lugar do mundo, que tenha acesso à rede de computadores ou sinal de telefonia, e sentirmos paz e tranqüilidade. Onde você estiver, estará ciente do que acontece no resto do mundo. Bombas, atentados, guerras, incêndios, assassinatos, tiroteios, quedas nas bolsas financeiras, local de férias de um famoso norueguês, ou o último prato de restaurante que sua amiga comeu na última viagem dela à Fortaleza. Tudo chega toda hora. Claro, nao é regra. Tem aqueles que não receberão nenhuma dessas notícias que postei acima. Pelo contrário, passarão horas reagindo euforicamente aos milhões de vídeos de gatos, cavalos, presidentes e desconhecidos talentosos que lhes chegam a todo instante. Serão felizes com a fina flor dos conteúdos que lhes chegam. Nada de notícias oficiais, nada de debates políticos, culturais, globais. Nada de conteúdos extensos sobre a fome, aquecimento global ou intolerância religiosa. Nada de jeito nenhum sobre direitos dos indígenas, racismo, homofobia, fake news. Não! Estes homens e mulheres felizes, só irão até onde suas redes de contatos lhes permitirem, e compartilharem com eles. Estas redes, geralmente viciadas com o que lhes convém apenas, pouco sabem do mundo fora delas. Mas... terão aqueles que se refugiarão nos porões e quartos do Starbucks. Poderão pedir ou não uma bebida... e lá poderão ficar por horas. Sem a luz do sol, sem o molhar da chuva, sem o soprar do vento, sem precisar considerar a presença de quem quer que seja. Lá, com sinal de internet liberado, algum aparelho eletrônico, algum livro, alguma página, algum estímulo, poderão  também ser felizes. E não precisarão saber de nada. Isso pode ser bom... isso pode ser ruim... isso pode ser como cada um consegue sobreviver num tempo de loucos e desvairados sem o que fazer.

Bom café. Se houver.

Comentários

Postagens mais visitadas