É sempre nos Bailes das Quebradas 



Como garantir que se chegue ao final do dia?
Como garantir o ar respirado, circulado, bombeado até ir dormir?
Como garantir a vista Boa, a audição Boa, o olfato de Boa, o tato Bom, o pisar Bom, as funções todas de Boas?
Como garantir algum sorriso em qualquer minutinho que seja, em algum momento do dia?
Como garantir que garantir alguma coisa vai garantir o resto das coisas dessa coisa toda que é a vida?

O Dia

Hã?

Qualquer acordado desavisado abestalhado pode não passar da quina da porta do quarto, do banheiro, da casa, da calçada.
Qualquer vaso de planta derrubado, qualquer galho estragado, qualquer pedaço de nada alguma coisa caído, caindo.
Qualquer outro movimento que não o seu, o meu, da física, do vento, do outro, das outra, corta teu caminho, teu descaminho, teu deslumbre, tua ilusão, teu desbunde, teu chorume, e te leva.

E te para.
E te atravessa.
E te pastela.
Te contesta.
Te grelha.
Te lacra.

Sem Dia

Vira larva. Vira vala. Vira esburacada. Vira desdentada. Vira cadaverada. Vira lata. Vira martelada. Se vai. Virado nada.

O sol levanta sem nada garantir, sem nada segurar, sem nada durar. Levanta e vai. Desembestado. Abestado. Esburacado. Buracos negros infinitos de coisa muita que nada sabemos sobre. De repente tudo se esburaca. Desaparece. Desmerece.

Adia

Sem garantias de chegar ao final do curso. Do casamento. Do confinamento. Do engarrafamento. Do temperamento. Sem garantias que se chegue ao final do baile. Antes que a despolícia matadora te encurrale no beco.

Da Quebrada.
Sempre os Bailes da Quebrada.

No final do pancadão. Com muitas pancadonas. Na cara. No rabo. Nas pernas. Nos braços. No cérebro. Nos sonhos. No ar respirado. Nos pensamentos agitados. No futuro encoberto. Na pobreza miséria. Na vontade de rir, na vontade de seguir, mesmo mal desejado como sempre se foi. Sem garantias, não foi garantido. Nada se garantiu.

Desgarantido. Desassistido. Despido. Despedaçado. Nada feito antes. Nada feito agora. Nada feito nunca. Nada importa sobre quem nunca se garantiu nada. Não há ninguém. Não há nada.

Pro Dia
PoDia

Como chegar ao final do dia? Como realizar o plano sonhado de manhãzinha? Como gastar o suado dinheiro de cada mês? A bermuda top, a camisa top, o tênis top, o celular top, a caranga top, o mino mina top, o som top. A família que queria top. Como chegar no que queria? Como ser o que nem ainda queria? Como chegar no sonho que ainda nem tinha tido?

Como atravessar a rua sem ser pego? Como trampar sem ser confundido com o demônio? Como parecer descente, sem que te confundam com o demo? Tá todo mundo caçando satanás. Tá todo mundo procurando satanás. Se te olham suado, afeminado, rasgado, favelado, africanizado, indomesticável, libertado, animado, zuado, estudado, educado, intelectualizado, inconformado, animado, transado, sexualizado, empoderado, rebelado, elevado... já te param. Ja te matam. Satanizado.

Te param pra matar. Nunca mais sonhar. Nunca mais desejar. Nunca mais contestar. Nunca mais celebrar. Nunca mais se libertar. Nunca mais respirar.

Outro Dia

Quem garante que se vai chegar a algum lugar? Quem vai proteger quando os guarda chegar? Quando a bala disparar? Quando a BostaNaroRabo falar? Quando o país desandar? Quando a porra toda desmantelar?

Um Dia
Nenhum Dia

Quem vai garantir?

Quem?
Os signos?
A bíblia?
A polícia?
A política?
A milícia?

Hã?

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