Pra Quê Teatro no Dia Mundial do Teatro e o Coronavírus bem perto de nós

Perguntar Pra Quê é pensar O Quê.
Perguntar Pra Quê não é simplesmente responder.
É pensar. Dizer não sei. É se indagar. É afirmar sem saber bem por que. Perguntar Pra Quê é puro exercício do não saber. Mas querer responder, é também o exercício do Pra Quê.

Cada um vai dizer uma coisa. Cada um sempre vai falar da sua própria coisa. Cada um é uma coisa. Às vezes com mais consciência, às vezes com menos. Às vezes afirmando, às vezes duvidando. Faz parte de nós, encher o peito e afirmar qualquer coisa. Toda coisa afirmada por nós é sempre real. Quem afirma, afirma com o que tem, com o que é. Ninguém pode desmenti-lo. Toda coisa duvidada por nós, também é real. Quem duvida, duvida com o que tem e o que não tem, com o que é e com o que não é. É sempre legítimo. O silêncio ou a fala. Parado ou em movimento.

No dia 27 de Março de 2020, o Processo Natimorto lançou a pergunta aos artistas das artes cênicas em Manaus: Pra Quê Teatro?

No dia 27 de Março de 2020, o mundo inteiro enfrenta uma pandemia de Coronavírus, com cidades e países inteiros em completa quarentena. Tudo que pensávamos nunca poder parar, parou. Tudo que pensávamos nunca desacelerar, desacelerou. E tudo que pensávamos estar estagnado no Brasil, desestagnou. Uma rachadura irreperável, finalmente começa a aparecer no solo brasileiro. Elas já existiam aos montes. Mas quase nada se via. Agora aparecem aos poucos. É possível que se abra e tome todo o território. É possível que se abra tanto, que até nós sejamos engolidos. É possível bem provável que tudo que conhecemos existir, da forma como persiste existir, deixe em breve de ser. De estar. De fazer. É possível provável com certeza, que outras forças se redescubram sob e sobre este solo. Já dá até pra ver.

Em Manaus, sempre com nossas Artes a espera de qualquer edital, festival, comercial, eventual, pouco sabemos do que de fato, é real. Se tem artista todo dia, ou só eventual. Se tem produção e pensamento todo mês, ou só quando lançam edital. Se a arte é mesmo nossa condição, ou só a parte comercial. Se queremos fazer alguma coisa acontecer, ou só durante um festival. Tudo isso pode acontecer. É até normal. Em todo canto. Mas fica difícil saber, em que pé no Teatro, estamos. Aí levantamos as mãos e perguntamos: Pra Quê Teatro? Descobrimos em que pé no Teatro estamos. Teve vídeo respondendo a pergunta, de todo canto, com encanto. Teve artista antigo, experiente, dizendo o que pensa, o que sente ter sido o Teatro na sua vida. Teve artista recém saído da escola, que de tanto gás que tem, até projeto em outras escolas mantém. Gente que chegou quase ainda agora na cena, e já divulga essa arte com total inteireza. Tem curso de Teatro do governo do Estado, tem grupo de Teatro em Escolas do Estado, tem curso de Teatro nos bairros nobres da cidade, tem grupo de Teatro até em faculdade. Tem Teatro na Universidade. Tem artista de Teatro em cada bairro dessa cidade. Tem gente fazendo Teatro, em qualquer idade. Uns pagam mensalidades, outros só a passagem. Uns ganham dinheiro, outros só investem. Uns levam a sério, outros apenas se divertem. Levam a sério o que lhes diverte. Alguns comem pelo Teatro, outros apenas se libertam. Alguns são sempre muito alegres, e outros muito drama e pouca comédia. Bastou perguntar Pra Quê, que um sem número de fazedores de Teatro se posicionou a responder. E que beleza que nos pareceu. O Teatro em Manaus é vivo e está longe de desaparecer. Corpos novos, mente aberta, muitos sonhos, quase nenhum medo, e muita vontade de criar desassossego. Gente madura, corpos cheios de histórias. Tem gente de todo jeito falando do seu próprio jeito, das suas próprias tábuas. Tem Teatro de todo jeito em Manaus. Cada um responde Pra Quê com o que, até agora, recebeu. E seus caminhos se desenhando, milhares de Teatros se preparando. Bastou perguntar Pra Quê, que logo percebemos, o Teatro em Manaus se renova sem pedir licença. Sem nenhuma permissão. Como deve sempre ser. Como quer o Teatro assim ser.

De Coronavírus nos rodeando, de despresidentes nos matando, de mídias e eletrônicos nos relacionando, em casa, na rua, ou nos pensamentos paramos. Respiramos. Esperamos. Uma infinidade de Pra Quês Teatro em milhões de nós, vai se formando. Acasalando. Alimentando. Gestando. Fertilizando. Logo serão nossos corpos, infectando ruas e todos os bandos, com nossos infinitos Teatros se propagando.

Pra Quê Teatro? Pra Quê Arte? Pra Quê tanta retórica? Pra continuarmos sempre nos perguntando. Nos reinventando. Nos superando. Nos humanizando.

Feliz Teatro.
Feliz Vida.
Feliz Recomeço.
Feliz Humanos... De um Figa. 

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